terça-feira

cinco janelas para cinco minutos distantes


debaixo de uma árvore um passarinho se comporta estranhamente
uma formiga escala o meu pé


uma coisa é continuação da outra

a primitiva vontade de explosão do eu no todo

mas
preferimos encarnar no corpo de uma mísera estrela a ser um espaço vazio e azul do céu
não daria nem para apontar: olha ali. aquele espaço vazio e azul do céu é o vitor


esse é o osso do paradoxo
cantamos todos em coro: amamos silhuetas


sobre a angústia e a melancolia;
uma é como que pairasse devagar sobre os dias. já a outra é feita de uma matéria muito mais bruta. arapuca armada no centro do pensamento. basta pisar basta pensar uma vez para se erguer o interminável labirinto. isto ressoa fisicamente num exato local do peito que não necessariamente tem a ver com o coração. sonâmbulo contorcer-se. é bad de mulher. meu amigo concordou-suspirou: é bad de mulher


festa;
um abraço me abrindo três deja vus: espera. estou com outra pessoa. te ver e ficar de boa foi como segurar uma ejaculação. eu não; eu não quero nada; eu só quero; só queria; eu não queria estar fora da sua vida. alguém me passa o violão; toca jorge ben aí: ela já não é mais a minha pequena


bonito sotaque de recife pra lá de bagdá:
é sempre bom ter um homem que segure uma mulher


uma saia se levanta sobre meu nariz; um cigarro se acende na minha boca; uma mão desliza meu cabelo; e o mundo cuida das muletas


achei escrito no meio de um caderno do ano passado

lembra nós dois;
tão tristes que apagamos um terço do sol
- até hoje ninguém notou


fui embora
a gente se vê por aí
soube ali que por aí não era lugar mui distante


mamas and papas;

falei que não parecia canceriana
mas de repente parece que nasceu em julho muito mais do que ontem
talvez pelo render-se

esse render-se julino que não tem a ver com assumir perdas; mas um enorme let it be


se olho tanto meu relógio é porque os cavalos tem pressa de voltar


meu amigo escreveu que o universo é um momento
por isso o nome do meu planeta é comigo; comigo é um planeta muito azul
porém mesmo azuláqueo

descobri que posso trocar as cores de minhas escuridões [as mais fáceis são as cores roxa, verde e a laranja]


feche os olhos e verá as imagens que vivem debaixo das pálpebras
como o peixe-palhaço


estamos todos sozinhos porque não há ninguém que esteja exatamente aqui
por exemplo,

é evidente que o mundo gira menos veloz aos pássaros..


sobre as coisas da separação e da continuação;
no primeiro minuto avisto a liberdade; no segundo minuto corro e caio em seu buraco; no terceiro minuto ainda estou tonto. no quarto minuto fujo de noite

o quinto minuto é este







2 comentários:

  1. nunca vi nada tão triste... nunca nada triste

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  2. Linda a sua arte, há um tempo já que a admiro.
    Um formato pós-moderno? Bom, o segmento é aberto e inspira.
    Parabéns.

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