Que poeta você, Camafeu... ironizou ela, gozando do poema que achou caindo do meu bolso. Estávamos sozinhos na sala. Era mês de inverno. Eu, entrando na sua peça, fingi cara de decepção. Foi então que ela veio até mim, cheia de mimos, se desculpando, você sabe que amo seus poemas, Camafeu. E passou a mão em meus cabelos... escorregando seus dedos gélidos pela minha costeleta, maxilar e pescoço... até repousa-los em meu peito, com um meio abraço. Eu me fazia de morto, continuava a cena...
Me explique então o poema, sussurrou ela ao meu ouvido.
É só o coração, falei, que, como a Lua, míngua, se renova, cresce e fica cheio. Pra um dia perder, de novo, um pedaço e voltar a ser minguante, entende?
Ella sorriu - a ordem das fases da Lua não é essa, Camafeu...